de temas caipiras, tambores de axé e guitarras estridentes,
o gênero anima festas no interior e na cidade grande
Música
As raves do Jeca Tatu
As raves do Jeca Tatu
O sertanejo ganhou uma versão universitária. Mistura
de temas caipiras, tambores de axé e guitarras estridentes,
o gênero anima festas no interior e na cidade grande
de temas caipiras, tambores de axé e guitarras estridentes,
o gênero anima festas no interior e na cidade grande
Sérgio Martins
Lailson Santos |
Vinícius e João Bosco: Ph.Ds. em música caipira e um repertório feito para a "meninada beijar na boca" |
Nos últimos anos, gêneros tradicionais da música brasileira foram adotados pelos jovens e receberam um novo alento. Samba e forró, por exemplo, ganharam uma vertente "universitária". O estilo sertanejo era candidato óbvio a entrar na história – e entrou. Existe hoje um sertanejo universitário, capitaneado por duplas como João Bosco & Vinícius e César Menotti & Fabiano. Mas o novo fenômeno não repete a experiência do samba e do forró, caracterizada pela busca do que é "puro" e "autêntico". O sertanejo universitário não traz nada da música caipira e muito pouco do sertanejo da década de 70. Tocado com percussão baiana e guitarras em volume alto, ele é música de balada. Há cidades que promovem festas de varar a noite (e às vezes o fim de semana), como as de música eletrônica. São uma espécie de rave do Jeca Tatu. Outras adotaram a micareta sertaneja, em que duplas se alternam com bandas de axé music. "Fazemos música para quem gosta de beijar na boca", diz Vinícius, um dos principais artistas do movimento.
César Menotti & Fabiano cantam desde que eram crianças. No início da década, tentavam a sorte em Belo Horizonte. No mesmo período, a dupla João Bosco & Vinícius, formada por um dentista e um estudante de fisioterapia, despontava em Campo Grande. Nos dois casos, a primeira tacada profissional importante foi conquistar espaço na programação de bares freqüentados por estudantes. "Nós dávamos ingresso de cortesia à turma de medicina, que era mais descolada que a dos cursos de veterinária e agronomia", conta Vinícius. Ambas as duplas fazem uma apresentação animada, em que os clássicos sertanejos são tocados em velocidade maior que a normal. "A meninada gosta de agito e damos isso a eles", diz Menotti. A partir da experiência nos bares, César Menotti & Fabiano e João Bosco & Vinícius conseguiram agendar shows nas próprias universidades. Cativada pelo estilo, a garotada adotou outras duplas, como Victor & Leo e Jorge & Mateus.
Na semana passada, a reportagem de VEJA acompanhou uma apresentação de João Bosco & Vinícius numa casa noturna de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O público é formado por jovens de classe média alta, que chegam de carro importado e gastam no mínimo 200 reais por noite, entre ingresso e consumo de bebidas. O show de João Bosco & Vinícius é um bom exemplo de como funciona o tal sertanejo universitário. A dupla alterna composições próprias com versões aceleradas de clássicos caipiras. Também há espaço para um sucesso do grupo pop Jota Quest. Artistas veteranos têm dificuldades em encontrar a célula sertaneja nessa nova música. "As composições são banais", diz o cantor e compositor Renato Teixeira.
As pessoas presentes na noitada de São José do Rio Preto sabiam de cor todas as letras. "No interior de São Paulo, os únicos bares que conseguem manter um público cativo são aqueles que dedicam sua programação à música sertaneja", diz Maria Isabel Aguiar, membro do diretório acadêmico Eugênio Gudin, do Mackenzie, que pretende "importar" o sertanejo universitário para a capital. Fãs masculinos apontam outra vantagem do gênero: ele não repele as mulheres. "Há no mínimo duas vezes mais mulheres do que num show de pagode", diz Daniel Chiodi, estudante de engenharia civil, que trabalha na produção de shows sertanejos na cidade de Joaçaba, em Santa Catarina.
Algumas duplas procuram se desvencilhar do rótulo. "Não é só moçada, não. Também tem crianças e velhinhas que gostam da minha música", conta Victor, da dupla Victor & Leo. Outras, recém-chegadas, o abraçam sem pestanejar. Rud & Robson perceberam a mania crescendo entre os colegas de sala de aula. Trocaram a faculdade pelo sertanejo. "Está dando dinheiro", diz Robson, que estudava gestão de política pública na Universidade de São Paulo e agora, com a agenda cheia, se prepara para colher o seu milhão.
O sertanejo-universitário tem guitarras?
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